segunda-feira, 28 de maio de 2012

A voz do povo, a voz de Deus?


         Laerte      
Vox populi, vox dei

No artigo A Voz do Povo é a Voz de Deus? de Joaquina Pires-O’Brien, a autora  fala sobre a expressão ‘a voz do povo é a voz de Deus’, oriunda do latim ‘vox populi, vox dei’ e menciona a opinião de alguns nomes conhecidos sobre esta máxima.

Tito Lívio (59 BCE – 17 AD) repudiou a expressão ‘vox populi, vox dei’ ao comentar a escolha dos tribunos, servidores da república oriundos da plebe e encarregados de manter a paz, através da aclamação popular.

Nicolau Machiavelli (1469-1527), sublinha a importância da relação entre opinião pública e poder, e de manter a aparência de virtuosidade perante o público ignorante. Um dos conselhos de Machiavelli, em seu livro O Príncipe, aos que desejam segurar o poder é dar poder ao povo, cuja voz seria mais constante e mais sábia do que a voz dos príncipes.

Jean-Jacques Rousseau, o influenciador da Revolução Francesa, proclamou o direito do povo de se rebelar contra a tirania do monarca atendendo à voz da natureza dentro de cada um de nós no seu livro O Contrato Social, porém reconheceu que o povo podia ser enganado a decidir erradamente contra o bem comum. Para Rousseau tudo o que é decidido pelo desejo comum está correto por tender às vantagens do povo.

Conforme o artigo, na moderna democracia a voz do povo é traduzida pela eleição, na qual ganha poder quem tem o apoio da maioria. O processo da eleição não é infalível, mas mesmo assim serve para legitimar a resolução tomada. A autora também pondera que reconhecer que o comportamento de turba e outros tipos de violência fazem parte da nossa natureza não significa que a sociedade deva aceitá-los, pois a mesma seleção natural que moldou na nossa mente a capacidade de responder inconscientemente a situações também moldou a capacidade de controlar nosso instinto de agressão sempre que o mesmo vem à tona como uma reação de reflexo instantâneo.

Origem

Câmara Cascudo, em Superstição no Brasil , nos esclarece a origem do ditado ‘a voz do povo é a voz de Deus’. Das várias crenças de adivinhações conhecidas no folclore brasileiro, para saber o nome do futuro marido ou da futura mulher, por exemplo, uma delas é colocar uma moeda na fogueira e, pela manhã, retirá-la do braseiro. Em seguida, dá-se esmola ao primeiro pedinte. O nome do mendigo será o nome do futuro noivo. Outra superstição é a de pôr-se água na boca e esconder-se atrás de uma porta. O primeiro nome ouvido será o do futuro cônjuge.

A curiosidade é que este hábito não é apenas brasileiro, mas tem origem européia. As pessoas consultavam o deus Hermes, na cidade grega de Acaia, e faziam uma pergunta ao ouvido do ídolo. Depois o crente cobria a cabeça com um manto e saía à rua. As primeiras palavras que ele ouvisse eram a resposta a sua dúvida. Assim, a voz do povo, a voz de Deus.

Links:
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