terça-feira, 12 de junho de 2012

Ainda uma vez – Adeus


Ainda no tema de histórias de amor, segue um pouco sobre Gonçalves Dias, poeta do romantismo brasileiro, e seu amor por Ana Amélia Ferreira Vale, musa inspiradora de muitos de seus poemas.

Nascido no Maranhão,  Gonçalves Dias era filho de uma união não oficializada entre um comerciante português com uma mestiça cafuza brasileira.

Mesmo enfrentando graves problemas financeiros ele estudou na Europa, e após o seu retorno ao Brasil ele conheceu aquela que seria seu grande amor, Ana Amélia.

Ele a viu pela primeira vez em 1846 no Maranhão, quando ela era ainda muito jovem, quase uma menina, e o poeta, fascinado escreveu para ela as poesias Seus olhos e Leviana.

O poeta partiu para o Rio de Janeiro e mais tarde, em 1851, voltando a São Luís, reencontrou  Ana Amélia, já uma mulher, e o encantamento se transformou em paixão.

Ele pediu Ana Amélia em casamento, porém em virtude de sua ascendência mestiça, apesar da grande estima e admiração da família da jovem por ele, esta negou o consentimento ao matrimônio.

O poeta, então, preferiu sacrificar seu amor a desafiar seus opositores e casou-se com Olímpia da Costa. Ana Amélia, sentindo-se rejeitada pelo poeta, casou-se com o comerciante Domingos da Silva Porto, casamento ao sua também se opôs, mas desta vez o pretendente recorreu à justiça, que lhe deu ganho de causa devido a maioridade da noiva.

Ana Amélia, então, deserdada partiu com o marido para Portugal e em Lisboa, Gonçalves Dias e sua amada se reencontraram casualmente num jardim público. Ambos abatidos pela dor e pela desilusão.

Ele especialmente arrependido de não ter ousado e fugido com ela, como era um dos planos do casal,  compôs as estrofes de Ainda uma vez - Adeus.

Em 1864, Gonçalves Dias voltava ao Brasil no navio Ville de Boulogne, que naufragou na costa brasileira. Salvaram-se todos, exceto o poeta que foi esquecido agonizando em seu leito e se afogou.

Ainda uma vez – Adeus

Enfim te vejo! – enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
...
Louco, aflito, a saciar-me
D’agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp’rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!
...
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura…
Olha-me bem, que sou eu!

Nenhuma voz me diriges!…
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias – bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!
...
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
...
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera…
E eu! eu fui que a não quis!
...
Dói-te de mim, que t’imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!… de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!

Adeus qu’eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

Lerás porém algum dia
Meus versos d’alma arrancados,
D’amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; – e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, – de compaixão.

Fonte: 

Portal São Francisco - Gonçalves Dias
Jorge Jansen - Ainda uma vez adeus
Gazeta da ilha - Amor eterno
Biografia - Gonçalves Dias
Graudez - Romantismo

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